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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ZÉ GATÃO : PINTURA DE GUERRA.


Pintura de Guerra é uma aventura das antigas, foi uma das tantas hqs curtas que fiz do personagem logo que concluí o primeiro livro. Na verdade ela foi uma boa desculpa pra testar algumas técnicas de cores sobre um papel improvável. Gosto disso, experimentar sem saber ao certo se a coisa vai dar certo. Já perdi tempo a toa com isto, mas na maioria das vezes fiquei surpreso com os resultados. E o mais legal, raramente consigo repetir a proeza, tendo assim um artigo único.
Por exemplo, todos sabem que aplicamos óleo sobre tela, aquarela é bem recebida por um papel poroso como o Canson ou um Fabriano, mas e se tentássemos carvão sobre papel vegetal ? Ou  canetinhas de ponta porosa sobre um poliéster ? São coisas assim que eu tinha o hábito de fazer; sim TINHA, pois hoje não posso me dar ao luxo de me aventurar tanto.
Pintura de Guerra foi resultado de umas das tantas empombações que me acometiam naqueles idos de 90.
Foi pintada com lápis de cor e canetinhas hidrocor. Alguns efeitos aquarelados foram conseguidos com cotonetes umedecidos na água e até mesmo na minha saliva. Eca!
Normalmente nas histórias, os efeitos flash-backs são obtidos com cores monocromáticas. Aqui eu usei o inverso, as cenas do futuro eram em preto e blanco - lápis 6-b sobre papel opaline - e o presente em policromia. Esta era pra ser o prelúdio de uma saga que envolvia o gato cinzento numa prisão de segurança máxima. Isto antes de OZ e Prision Break. Na verdade eu tinha lido "Memórias da Casa dos Mortos" do Dostoiévski e estava fortemente estimulado por ela.
Teríamos este preâmbulo, depois um segundo ato envolvendo uma caçada ao Zé Gatão por uma leoa cancerosa caça-recompensas. Numa terceira parte teríamos a prisão e ele tendo que sobreviver atrás das grades. 
Estou contando isto a vocês porque obviamente nunca cheguei sequer a por estas ideias no papel. Elas só existiram dentro da minha cabeça. Eu possuía muitos planos para este universo antropomorfo mas não tinha noção do quão é difícil ser autor de quadrinhos no Brasil.

Pra vocês terem uma noção, quando eu estava na metade desta hq, eu a levei à METAL PESADO, e lá fui muito bem recebido pelo editor Eloyr Pacheco ( mais tarde ele se tornaria editor da extinta Brainstore). Ele gostou da arte e tal, mas primeiro ela teria que passar pelo crivo do Álvaro Moya. Aprovada finalmente, havia mais uma questão a ser resolvida, o número de páginas, eu tinha planos pra pelo menos umas 30 e a Metal não publicava hqs com mais de 10 páginas. Como o Eloyr havia gostado muito do que via até ali, foi aberta uma exceção pra mim e ficou combinado que eu resolveria tudo com 15 págs. Conclusão, tive que espremer os textos nos balões pra pelo menos transmitir parte do que eu queria, e assim ficou, textos que mais parecem discursos em balões enormes e artes menores.
Pintura de Guerra seria publicada na edição nº7 , alardeavam também neste volume uma volta triunfal do Watson Portela aos quadrinhos. Esperei um bom tempo e finalmente veio a notícia de que a revista seria cancelada na edição 6 por causa das baixas vendas. Foi um banho de água fria. De volta à minha gaveta, a história ficou por lá esperando uma nova oportunidade. Inclusive a fonte original de texto ainda é a mesma, com falhas de pontuação. Naquele tempo não haviam os recursos existentes hoje. Pensei em estender a narrativa como eu tinha planejado desde o inicio mas aí eu teria que mexer em toda a estrutura, não tinha muito mais tempo naqueles dias.
E assim foi até o dia em que eu e o Sidney Gusman fomos almoçar no Shopping Anália Franco. O Universo HQ estava nascendo naqueles dias e ficou acertado que a única hq colorida de Zé Gatão até aquele momento seria publicada no site. E lá ela está até hoje.
Não sei, gostaria muito de vê-la publicada em papel um dia. Quem sabe até com toda a saga que eu tinha imaginado. Bem, sonhar ainda não paga imposto, né? Ou paga? 

8 comentários:

  1. Du, sonhar não paga imposto ainda. Mas, se pagasse, você seria isento, pois seus sonhos são de encher os olhos. Quando eles se tornam reais, então...
    Abração, meu amigo!

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  2. Cara, assim eu explodo de tanta vaidade!
    Corro o risco de me ensoberbecer, aí...
    Muito obrigado por partilhar estes sonhos comigo.
    Um abração.

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  3. cara eu to muito surpreso por vc tambem gostar do floyd.vc devia fazer uma ilustração sobre os solos do gilmour.. ja ia esquecendo adorei os comentarios sobre as mulheres com bico de pato
    vc falou uma que eu realmente queria ouvir
    eu gostaria muito de ve essa hq do zé colorida.
    e tambem quero dizer que quando eu comprar minha hq do eu queria que ela tivesse autografada..e é issso valeu e abraço
    henrique silva

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  4. Fala, Henrique, rapaz, eu também queria muito ver esta história do Zé Gatão em papel. Quem sabe um dia?
    Pink Floyd é o máximo em música.
    Pode deixar, seu álbum terá um autógrafo especial.
    Abraços.

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  5. Esta historia de Zé Gatão me surpreendeu nitidamente de vários modos ... Eu realmente fiquei refletindo muito tempo sobre as palavras do Tigre Marte que apesar de psicóticas e maniacas eram aquele tipo de loucura assustadora que faz sentido quando a gente ouve por mas dementes que sejam e por mais psicopatas que sejam as atitudes do autor . Marte era um " monstro " um " insano " porem ele também tinha motivos se não nem " justos " nem " dignos " para sua cruzada ao menos " lógicos " . E é justamente ai que esta a beleza da historia quando ele começa a falar para Zé Gatão eu pensei " Esse cara é um Hitler ! O Zé vai meter a mão na cara dele ! " ... Mas não ... Zé Gatão ouviu pacientemente cada palavra de marte e replicou : " Você esta errado ... Por esse , esse e esse motivos ... " e Zé falou de volta tudo que estava no coração de todos nós sobre respeito , tolerância e amor . Aquilo que ele disse me impressionou pela sabedoria das palavras e por mostrar que Zé é muito mais que uma " montanha de músculos " e que ele também pensa e sabe quando é o momento de brigar e o momento de falar e que nesse momento ele sabe falar aquilo que todos nós precisamos ouvir . Eu confesso que fiquei com medo de que o Tigre Marte reagisse com fúria a alguém questionando seus ideais mas não ... novamente não aconteceu nenhuma luta e quando Marte diz : " Suponho que agora vá me entregar ? " Zé Gatão novamente surpreende ao dizer que " Ele não era Deus . Que direito ele tinha de julga-lo " e a seguir desejou ao Tigre que ficasse em paz . Mesmo assim a despeito de seu ato de bondade Zé Gatão infelizmente não termina " bem " aquela historia . Graças a um maldito Orangotango Paparazzi que conseguiu fotos tiradas por um outro maldito macaco que fotografou a luta violenta que Zé tinha tido minutos antes de falar com Marte com dois crocodilos criminosos para se defender mas que não se importou de fotografar nem Marte nem ouvir a conversa que ele teve com Zé as autoridades chegam a conclusão errônea de que Zé Gatão era o maniaco serial killer no lugar de Marte . Podemos adivinhar as consequências para Zé e sua amante . Enfim por isso " Pintura de Guerra " me surpreendeu por mostrar uma historia em que não é preciso lutas nem sangue apenas ideais . Você esta de parabéns por isso Eduardo ^^

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    1. Boa noite, Alexis.
      Caramba, Pintura de Guerra é tão antiga que me surpreende que alguém ainda se lembre dela! Imagino que você a tenha lido no UHQ, não é? Pois bem, gosto dela, mas ela foi feita num tempo onde eu tinha outra cabeça, bem não tão diferente assim, mas hoje menos radical, sem ideias esquerdistas a me assombrar. Acho que o Marte no fim das contas age como todos nós temos vontade, mas sem coragem de fazer, e como bem lembrou o Zé Gatão, tomar a justiça nas mãos é algo extremamente delicado, um erro cometido e não se pode voltar atrás. Na época em que eu batalhava para essa hq ser publicada um amigo me disse que achava uma história muito triste, e é de fato, o tigrão numa cruzada como esta, solitária, tendo a lembrança da família dizimada a move-lo, um corpo poderoso com um coração prestes a parar, quando confrontado, vê que suas ações são questionáveis. Acordar para a realidade é duro.

      O final da história seria o início de uma saga, como explicitei no post, uma sequencia de cadeia, ação e fuga, mas no entanto o mercado de quadrinhos continua aquela inconstante, era difícil em 1998 quando fiz a história e não mudou muito hoje. Tive que engavetar todas as ideias.

      Há uma chance de Pintura de Guerra sair impressa em papel, com todas as cores, o pessoal da PADA, em Pernambuco, que lançar algumas hqs de Zé Gatão (várias inéditas) em um álbum através de financiamento coletivo, mas ainda estamos em conversações, vamos ver no que isto vai dar.

      Agradeço, Alexis, a sua mensagem, é legal recordar um pouco o passado, mesmo através de uma história pouco conhecida, mas tão bem analizada por você.

      Um grande abraço.

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