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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

CRISE.



Eu não deveria estar aqui agora e sim com a bunda sentada na prancheta, labutando, quer dizer sentado no banco em frente à prancheta. Sabe aqueles dias em que você fica encontrando desculpas pra não trabalhar? É comum quando você é seu próprio patrão, não tem um chefe que te puxe a orelha, então pode se dar ao luxo de encontrar escusas e fugir da responsabilidade. Certo, cê tem razão, não é a primeira vez que falo disso aqui, mas hoje meu raciocínio vai além. O que me leva a isto? Eu chamaria de crise. Vamos à matemática: eu trabalho com criação, o que pra muita gente pode parecer frescura, pra mim é encontrar o tom, aquela nota que toque em algum ponto da alma do espectador, seja numa expressão, num matiz, num hachuriado, enfim, algo que me diferencie dos demais, é o que eu persigo, o que chamo de respeito pelo que faço e por quem me prestigia. Cada vez que risco algo no branco do papel preciso de concentração, disciplina e afinco. Não receber por este esforço na data determinada, quando as contas insistentemente batem à minha porta, subtrai parte do que preciso para continuar. Mas respiro fundo e tento não ouvir os cochichos malignos que bafejam nas minhas orelhas, sigo na tarefa dizendo a mim mesmo que inspiração é um detalhe, eu preciso é de transpiração. Para não deixar a peteca cair eu acolho outras encomendas, e na maioria das vezes me enrolo. Aí bate o bloqueio criativo, então fico fugindo, me escondendo, não encarando o problema de frente.
Tento ser profissional, sei que o desenho não vai se fazer sozinho, mas aí me deparo quase sempre nestas ocasiões com outra muralha à minha frente, o traço que não sai. Estava eu hoje a tarde criando uma cena em que nela eu deveria ensinar como se faz um sombreado, coisa simples (sugerida por quem encomendou), um cara conversando com uma mina, tava até indo bem, mas aí me lembrei que meu cliente gosta de rostos sorridentes, embora não seja uma campanha de creme dental, então apaguei a boca da garota para faze-la sorrindo. Pronto. Não conseguia mais adequar a boca ao rosto. Sem problema, apaguei e tentei fazer outro. Necas. Não conseguia dar aquele detalhe tão importante pra mim, aquele algo mais que eu havia conseguido na primeira face. Tornei a refazer, sem sucesso. Parei. aprendi que nestas horas é melhor dar um tempo. Foi aí que vim pra cá. A arte citada era pra ter ficado pronta ontem a tarde, e ainda estou tentando faze-la.
Com certeza receber pelos dois últimos trabalhos que fiz ajudariam a vencer a crise, afinal foi pra isto que me empenhei nas últimas semanas. Um veículo só funciona à base de combustível (no meu caso, a substancia que me propulsiona seria o carvão pois me sinto como uma velha maria fumaça), do contrário é querer que ele pegue no tranco, mesmo com a bateria arriada.

Sei lá, será que teria sido melhor eu ter insistido em fazer um concurso e ter virado funcionário público?

A propósito, as ilustrações de hoje foram feitas para o livro "Memórias Da Casa Velha" do Machado de Assis.

Pois é, mas o show não deve parar, ter desabafado com vocês foi bom, tenho certeza de que quando eu voltar ao estúdio o rosto da garota vai sair, mesmo sabendo que não ficará pronto hoje e há várias coisas na fila. Mas estamos vivos e há trabalho. Louvado seja Deus por isto.

2 comentários:

  1. Fala, Eduardo! Já me habituei a ler suas palavras. Sei como é duro trabalhar pressionado e desanimado com a falta de recompensas, que nem se pode chamar de recompensa, pois foi ganho com suor e irá embora fácil, no pagamento de responsbilidades. Vivo isso constantemente também, embora trabalhe em área um pouco diferente. Mas não podemos desanimar. Nessas horas sempre me lembro de um cartão postal que recebi de um amigo faz tempo: "Quando mais te parecer que é impossível, é quando você precisa acreditar mais". Auto-ajuda babaca? Pode ser, mas faz todo sentido. A energia necessária para nos erguermos é sempre muito maior. ´
    Boa semana e, força aí.
    Abração,

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  2. Pois é meu amigo, é fogo na roupa! Como eu disse, já falei disso no passado, pareço um reaclamão, mas fazer o quê? Não consigo me acostumar a estas situações, mas temos que seguir em frente.
    Obrigado pelo apoio e prestígio.
    Abração.

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